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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Experiências de um dono de casa.

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Segunda-feiraSozinho em casa. Minha mulher vai passar a semana fora. Ótimo. Acho que teremos uma semana inesquecível – o cachorro e eu. Tracei um plano e programei meu tempo. Sei exatamente quando acordar, quanto tempo ficar no banheiro e quanto tempo levar preparando o café. Também somei o número de horas de que preciso para lavar, arrumar, levar o cachorro para passear, fazer compras e cozinhar. Estou agradavelmente surpreso em ver que ainda me sobra muito tempo livre. Não sei porque as mulheres fazem o serviço de casa parecer tão complicado, quando toma tão pouco tempo. É só se organizar. O cachorro e eu jantamos um bife cada um. Coloquei sobre a mesa a toalha de festa, uma vela, além de rosas – para criar atmosfera agradável. Ele come patê de entrada, depois outra vez no prato principal, com fina guarnição de legumes, e biscoitos de sobremesa. Bebo vinho e fumo charuto. Há muito não me sentia tão bem.
Terça-feira
Preciso dar outra olhada na programação. Parece que requer pequenas mudanças. Expliquei para o cachorro que nem todo dia é feriado, portanto não deve esperar hors d’oeuvres nas refeições, nem três tigelas, que ainda tenho de lavar. No café da manhã, notei que suco de laranja caseiro tem uma desvantagem. O espremedor de frutas tem de ser limpo a cada vez. Uma possibilidade: fazer o suficiente para dois dias. Aí posso lavar com a metade da freqüência. Descoberta: você pode aquecer salsichas na sopa e assim ter menos uma panela para lavar. Certamente não pretendo aspirar a casa todos os dias, como minha mulher queria. Dia sim dia não é mais do que suficiente. O segredo é andar de chinelos e limpar as patas do cachorro. Pronto. Sinto-me ótimo.

Quarta-feira
Tenho a sensação de que o serviço de casa toma mais tempo do que eu imaginava. Devo repensar minha estratégia. Primeiro passo: comprei comida pronta. Não preciso gastar tanto tempo cozinhando. Não se deve levar mais tempo cozinhando do que comendo. Fazer a cama é um problema: sair de baixo das cobertas, depois arejar o lugar e então fazer a cama. É tudo tão complexo! Não acho necessário arrumá-la todos os dias, especialmente sabendo que voltarei a dormir naquela mesma noite. Parece tarefa sem importância. Não estou mais preparando refeições complicadas para cachorro. Comprei comida pronta para cães. Ele fez uma cara! Mas o que fazer? Se posso comer refeições semiprontas, ele também pode.

Quinta-feira
Chega de suco de laranja! Como pode uma fruta de aspecto tão inocente criar tal confusão? É inacreditável. Comprarei suco de laranja em garrafa, pronto para beber. Descoberta: consegui sair da cama quase sem desarrumar as cobertas. Tudo que tive de fazer foi alisar um pouco o cobertor. Claro, é preciso prática e não se pode rolar muito durante o sono. Minhas costas doem um pouco, mas nada que um banho quente não resolva. Parei de me barbear todos os dias. É realmente perda de tempo. Ganho preciosos minutos que minha mulher nunca perde porque não faz barba. Descoberta: não há necessidade de se comer num prato novo a cada vez. Lavar louça com tanta freqüência começa a me irritar. O cachorro também pode comer numa única tigela. Afinal, é só um cão. Nota: cheguei à conclusão de que se pode aspirar no máximo uma vez por semana.
Sexta-feira
Basta de suco de frutas! As garrafas são pesadas demais. Descobri o seguinte: salsichas são ótimas pela manhã. No almoço, nem tanto. E no jantar, nem pensar. Se um homem come salsicha por mais de dois dias, pode ter náuseas. Dei ração ao cachorro. É nutritiva e não suja a tigela. Descobri que sopa pode ser ingerida diretamente da lata. Tem o mesmo gosto. Sem vasilha, sem concha! Não me sinto mais um lava-louças automático. Parei de esfregar o chão da cozinha. Aquilo me irritava tanto quanto fazer a cama. Nota: esqueça as latas, pois sujam o abridor.
Sábado
Por que tirar a roupa à noite se vou vesti-la de novo pela manhã? Prefiro passar o mesmo tempo deitado, descansando. Também não há necessidade de usar cobertas, assim a cama já fica feita. O cachorro sujou o chão. Dei-lhe uma bronca. Não sou seu criado! Estranho. Minha mulher me diz isso de vez em quando. Hoje é dia de fazer a barba, mas não sinto vontade. A paciência está no limite. O café da manhã será algo que eu não precise desembrulhar, abrir, fatiar, espalhar, cozinhar ou mexer. Tudo isso me irrita. Plano: almoçar diretamente na sacola, em cima do fogão. Sem pratos, talheres, toalhas ou qualquer outro absurdo. As gengivas estão meio inflamadas. Talvez seja a falta de frutas, tão pesadas para se carregar. Minha mulher ligou à tarde e perguntou se lavei as janelas e as roupas. Caí numa risada histérica. Disse que não tive tempo. Há um problema na banheira. Está entupida com espaguete. Não me incomoda muito, parei de tomar banho mesmo. Nota: o cachorro e eu comemos juntos, diretamente da geladeira. Tem de ser rápido, para não ficar muito tempo aberta.
Domingo
O cachorro e eu estávamos sentados na cama vendo na TV as pessoas comerem todo o tipo de comida e guloseimas. Ficamos com água na boca. Estamos ambos fracos e de mau humor. Comi algo da tigela do cachorro pela manhã. Nenhum de nós gostou. Devia tomar banho, fazer a barba, pentear-me, dar comida ao cachorro, levá-lo para passear, lavar a louça, arrumar, fazer compras, entre outros – mas não tenho forças. Sinto que estou perdendo o equilíbrio e minha visão está sumindo. O cachorro parou de abanar o rabo. Num último acesso de auto-preservação, rastejamos até um restaurante. Comemos vários pratos de boa comida durante mais de uma hora. Depois vamos a um hotel. O quarto é limpo, arrumado e aconchegante. Encontrei a solução ideal para os serviços de casa. Morar num hotel! Imagino se minha mulher já pensou nisso.

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